De Pirituba a São Bernardo, da Zona Leste ao Extremo Sul. São esses alguns dos trajetos feitos pela Fort Magazine, Noix e a Rider para conhecer e conversar com a galera que fez da quebrada e das ruas de São Paulo parte essencial do seu estilo de vida e de vestir. O estudo é parte do projeto #RiderNaBeca, que tem como ponto de partida uma investigação sobre o streetwear no Brasil. A ideia é mostrar como os movimentos culturais locais influenciam na moda de rua de 4 cidades do país.
Em São Paulo, para viver, existir e resistir é preciso transformar e ressignificar. É hackear ou sumir! Aqui, tudo é subvertido e, em muitos casos, subversivo até. O logo da marca famosa tem outra leitura no baile funk da favela, o top cropped colado ao corpo e com estampa animal, tem força de expressão distinta no corpo da MC trans e da perfomer travesti. É ostentação, é pertencimento, é sedução, é resistência. É mostrar para o mundo – e em alto e bom som – que o favelado pode tanto quanto qualquer outro e que uma roupa não precisa conformar seu corpo. Na real, uma roupa deve fazer justamente o contrário, deve enaltecer o que te faz você, o que te faz parte do todo. Como você bem quiser.
Nesse liquidificador sociocultural, roupas ganham possibilidades mil: apropriadas e adaptadas a novas realidades, novas personalidades. Se a rua influencia a moda hoje, é na periferia que a moda é desconstruída de seu elitismo excludente e é utilizada como dispositivo para uma luta estética inserida no cotidiano. Funkeiros, jovens skatistas, criaturas desse deserto urbano, sereias do asfalto, coexistindo nesse cimento social que mais parece areia movediça.
E aqui está só o começo. Fique ligado para mais atualizações.
Realização: Rider
Curadoria e Criação: Noix
Fotos: Cassia Tabatini
e Amanda Adász
Edição de Moda: Thiago Ferraz
Edição de Conteúdo: Bruno Mendonça
e Luigi Torre
Entrevistas: Gezão Ferreira
Modelos: Davi Theobaldo, Chuck Basket,
Eduardo Nunes (Papodipokas), Jade Quebra,
João Velicev, Juan Falcon, Gigi, Gustavo Okrime,
Lucas Amaral, Lucas Santana, Marcela Martiliano,
Samir Bertoli, Vitor Hugo Silva
Colaboração: Ana Arietti
Davi Theobaldo, 16 anos
@davi_theobaldo
“Acho que meu estilo, a forma que eu me visto, tem muito a ver com o lifestyle do skate, até porque quem anda de skate considera o skate mais como um estilo de vida do que como um esporte. As minhas referências vêm muito dos skatistas que eu gosto, dos caras que eu curto ver andando, dos vídeos de skate que assisto. Vejo uma roupa que eles estão usando e que eu acho legal e aí vou pegando uma referência de cada lugar e acabo juntando. Acho que a música influencia muito nesse mood também, eu vejo muito clipe, ouço muita música, uso muita camiseta de banda, então é meio por aí.”
Giovana da Silva Dantas (Gigi), 18 anos
@gigigiovan4 @osperifericos
"Pra mim, vale muito mais fazer uma peça com o pouco que tenho e ser valorizada e percebida como criadora do que comprar coisas muito caras e que não tiveram o meu trabalho envolvido. Sempre uso a criatividade para criar as minhas peças, juntando o pouco de material disponível que tenho, tipo peças velhas e retalhos, com várias referências externas.”
Lucas Santana de Souza (Lucas Hard), 23 anos
@paraisobabilonico
"Acho que nas minhas fotos, nas minhas pinturas, tem um pouco desse role da rua, dessa coisa suja que só a cidade babilônica traz. Também tem o skate e o hardcore, que vem da rua para a rua. Sempre digo que os amigos são as minhas maiores influências, essa galera que está ai fazendo as coisas na rua e fazendo o hoje acontecer de verdade."
Eduardo dos Santos Barbosa Nunes (Papodipokas)
@papodipokas
"Não adianta eu ter informação e ir só para o centro, onde todo mundo já sabe, já consome o conteúdo, o interessante. Pra mim, é ir além e levar aquele conteúdo para o lugar onde eu vivo, isso sim é importante, isso sim é transformador. Rasgos e defeitos são vistos como uma forma de agressão contra as normas que a sociedade nos impõe. Use e reuse, quando a roupa é usada fora daquele modelo tradicional, ela choca, ela agride, ela é mal falada, vista como feia ou estranha, e esse é justamente o propósito pra gente investigar o que é beleza e discutir!"
Jade Fani Rodrigues da Silva (Jade Quebra), 21 anos
@jadequebra
"Nunca tive muita relação com marcas, até por vir de uma região muito carente. Consumia marcas populares como Torra Torra mas nunca eram as minhas roupas preferidas e sim o que o dinheiro podia pagar. Hoje compro muito em brechó de igreja e marcas independentes."
João Claudio Velicev, 24 anos
@futureisfortex
"O streetwear está presente o tempo todo, percebo que existem personagens e através daquela vestimenta você descobre uma personalidade, é tudo uma construção. Você quase pode reconhecer quem uma pessoa é, de acordo com o que ela está usando.”
Juan Falcón, 20 anos
@_juanfalcon
“O meu estilo se relaciona com a minha paixão pelo skate. Sempre admirei os skatistas e os rappers dos anos 90. Eu crio meus looks sem usar muita regra, crio a partir de uma concepção do que eu vivo e do que eu vejo. Isso se reflete na hora que eu vou me vestir, sempre de acordo com o rolê. Quando vou andar de skate, uso roupas mais largas, meu cadarço é meu cinto e quando vou pra noite, uso umas roupas mais das antigas, mais vintage, que sempre compro em brechó. Eu acho meu estilo livre e sou muito aberto e é fato, tô sempre mudando de opinião.”
Lucas Magalhães Amaral, 22 anos
@x_tief_x @limbo_projects
“Buscamos referências em toda a internet, para achar algo que nos representa. Clipes de rap são referências fortes no trabalho que faço com meu sócio Pedro. Outra grande referência é a classe média dos anos 70, acredito que tem muita ligação com os dias de hoje.”
Samir Simões Bertoli de Almeida, 19 anos
@samirbertoli
"Eu sou do LÍbano, e moro na quebrada, então, desde muito cedo, só usei roupas e marcas de quebrada. Quando comecei a prestar atenção no design das roupas, percebi que aquilo me influenciava muito, abrindo o olhar pra novas possibilidades, criar novas coisas. Gosto muito de roupas esportivas e do estilo casual inglês."
Everton Luiz Lopes Silva (Chuck Basket), 18 anos
@chuckdoubledeuce
“Quando meu pai me levou pela primeira vez em uma quadra de basquete, tudo fez sentido: o estilo das roupas dos jogadores, os tênis, tudo aquilo me deixou fascinado, foi amor a primeira vista. Vários tipos de regata, shorts oversized, tênis pesados, era uma outra realidade pra mim, porque como venho da periferia, a referência era outra, mas o basquete me proporcionou outras coisas, foi o meu momento de identificação.”
Vitor Hugo Silva, 19 anos
@vitoracx
“O meu estilo sempre teve uma conexão com a rua, com a a pixação, com o grafite. Hoje, mais do que nunca, a gente vale o que tem, e é isso que você vê no estilo de muitos jovens que vêm de lugares periféricos e que postam nas redes seus interesses em moda. Também gostamos das coisas sabe? Também gostamos de grife, de marca, de estética... Antes, parecia que esse lugar não era pra gente."
Gustavo Jaques Bicas (Gustavo Okrime), 19 anos
@meokri93 @okrimenaocopensa
"Em São Paulo eu acho que a gente cria um olhar questionador das coisas, além do mix de pessoas, essa visão faz com que a gente desenvolva um olhar criativo e inovador. Pra mim, a moda na rua é mais street life do que street style.”
Marcela Martiliano, 23 anos
@_mamz
"Hoje eu entendo o meu corpo, sei os tons que me favorecem e amo trabalhar com cor, adoro a moda dos anos 50, o streetwear atual, tudo isso influencia muito na minha construção de imagem. Nós estamos passando pela reconstrução do vintage."